Quando estiver
deitado na sua cama desarrumada e estiver com preguiça de se mexer, ou
até sem sono, pense no que eu fui pra você. Procure no seu coração se a
minha lembrança ataca seus nervos. Vasculhe sua alma se nossa historia
ainda parece fazer sentido, parece arrepiar, parece estar viva. Ouça na
sua mente se o que eu disse aquele dia eram mesmo “palavras de
sabedoria”, e se a frase “deixe estar” traz a leveza daquele momento.
Lave a roupa suja dentro de ti. Tire o que foi descartável, sinta de
novo aquele prazer e me diga qual foi a sensação. O que você sentiu
quando a minha imagem estranha estava na sua cabeça. Disparou o coração?
Tocou a alma? Perturbou a mente? Deu tesão? Sentiu meu perfume no ar?
Tabom, não me diga. Não, se não quiser. Meu objetivo é que você descubra
o turbilhão que há nas memórias, e se há turbilhão, e se há vendaval,
se há um furacão passando por dentro. Eu quero que você descubra se há
saudade, se há querer estar junto, se há paixão. Se houver um pingo de
uma dessas coisas vou te pedir que me ligue nem que seja num domingo as 7
da manhã e fale que há algo nisso tudo, que há algo em nós dois e não
só em mim. Não quero saber qual dos sentimentos esta dentro de você, só
me interessa saber que não estou louca, e que não estou sentindo
sozinha. Então desligue o telefone e volte a dormir, porque agora você
terá sono, você estará leve, você vai até sonhar. E eu ficarei ali
olhando a chamada recebida naquela manhã chuvosa, e pensando que o mundo
teria mudado, que meu mundo teria mudado por um pingo de sentimento."
— Carol Antunes