"Recebi uma visita há uns dias atrás, ela entrou sem bater na porta, puxou a cadeiro e sentou, ficou horas me olhando, eu já tinha a visto antes, mas agora parecia mais intenso, ela via mais além, ela olhava dentro de mim, como quem vê as entranhas e a anatomia do corpo. Ela parecia querer me dizer algo, mas prefiria ficar calada, nem precisou de palavras, e sentada ali do meu lado, me fez lembrar o passado. Deixei ela ali, não queria pressionar nada, mas para quebrar o silêncio, liguei o rádio, e começou a tocar "Cause when you're fifteen and somebody tells you they love you, you're gonna believe them..." e lembrei ali dos meus 15 anos, não passou tanto tempo de lá pra cá, mas achei engraçado em como a saudade é sinônimo de nostalgia. Basta uma música, um cheiro, uma sensação, um sabor, um lugar, pra que você se lembre de alguém, eu ouvia a música tocar e sorria sozinha, tinha saudades dos meus 15, das pessoas, da época.
A visita tinha chegado há pouco tempo e logo já se foi e deixou a porta aberta. Fiquei olhando pela janela, me perguntando se ela voltaria, a presença dela ali, era triste mas revigorava, gostaria de ter falado um "adeus", ou quem sabe um "volte logo". Mas eu entendi, que a saudade é mesmo assim, passa pela vida, mas sempre deixa a porta aberta, talvez porque tem que ser assim, se vai e deixa sempre alguma coisa de si. Pessoas vão e outras vêm, o tempo passa, e haverá sempre algo que nos faça voltar ao passado. E agora eu sei que quando isso acontece, é porque a saudade resolveu me visitar."
Natany Maciel
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